Viagens internacionais
Sorry, sir, mas hoje bateu a maior vontade de estar em
Londres. Saudades da Rainha, de Trafalgar Square, da ponte de Waterloo, do Palácio de
Buckingham.
Uma vez quase tomei chá com Elizabeth II. A gente só não se
encontrou porque eu nunca estive lá, mas Elizabeth está. Firme, desde que eu
nasci. O desencontro foi por puro capricho do destino e porque ela tem
joanetes. Ou pelo menos tem cara de que tem. Você me perguntaria o que um Five
o’clock tem a ver com joanetes. Não sei,
mas eu também não gosto de chá, nem de joanetes. E meu Inglês é tão capenga que
meu book is eternamente on the table porque falta vocabulário para colocá-lo em
outro lugar.
Sei que water é água, mas periga pensar que Black é branco e
White é preto, o que é politicamente incorreto e eu me lasco toda. Elementar,
meu caro Watson. Eles me confundem demais. Não facilitam pros primos pobres.
E o tal de pull e push? Como é que eu vou saber quando é que
eu puxo, quando é que eu empurro?. Não dá pra ficar diante da porta tentando
conjuminar o tico com o teco. Tem que ser vapt vupt. A fila anda. Tem gente
atrás. E a fila de neurônios de um idoso leva tempo pra se reorganizar. É
brabo!
Esse negócio de língua estrangeira é dificultoso. Os
banheiros então, me deixam louca, uma vez, na Alemanha, só pra levantar a tampa
do vaso quase que tive de pedir ajuda aos universitários, tantos eram os botões
pra apertar e aguinhas frias e quentes pro bumbum. Meu weltanschauung deu um
nó. E olhem que era só o número 1! Na Holanda foi um perrengue. Depois de
algumas cervejas numa pracinha, lá fui eu para um banheiro público subterrâneo
e todo informatizado. Meu parco QI conseguiu penetrar na casamata, surpreendentemente
espaçosa e com algumas pessoas dentro. Mas o que me espantou é que todas as
portas eram de vidro transparente. Oh! Deus! Todo mundo ia me ver sentada no
trono. Fiquei meio vexada. Nem sou da família real da Holanda! Aí falou mais
alto a urgência da hora. Vão todos pra tonga da mironga! Torci o trinco da
porta de vidro e pronto! A porta se tornou opaca, com lindos desenhos. Foi só
um susto. Coisas de capiau que vai espiar essas modernidades.
Experiência transcendental teve a minha faxineira. Foi comprar
um virol pra me dar de presente de aniversário. Aqui mesmo, na terrinha. “Queen
ou King?”. Diz a vendedora atenciosa. Ela agradeceu, voltou pra casa, pegou um
virol velho e voltou pra loja. “A marca é essa”. Fui presenteada com a Rainha.
Não foi propriamente Elizabeth II, mas como diz minha sobrinha pequenina:
“cabeu”!
Devido a todos esses perrengues linguísticos, e como a libra
não colabora, posso desistir de Londres e dar com os costados em Paris, pelo
menos juntei cem euros. Ô Glória! Na França, você falando Bonjour e Merci, o
francês já desmancha o bico e acolhe o brésilien com mais simpatia. Tirante que
é mais fácil saber que entrée é entrada e sortie é saída (e não sorte grande).
Ninguém precisa entrar pela saída ou vice-versa.
Portugal também não é ruim. Lisboa tem o euro tanto quanto,
mas também tem o fado e o Tejo. E a língua é moleza. Saída e entrada é tudo la
même chose. Até que você faça uma compra em um shopping cheio e alguém lhe diz
pra se “enfiar no rabo da bicha”. A bicha em questão é enoooooorme. E sem
chance de você alegar sua condição de idoso estropiado.
De qualquer maneira, do jeito que as coisas andam, não se
preocupem, essas são só elucrubações de uma tarde chuvosa. A grana mesmo só dá
para uns três dias em New Lima, Seven Lakes ou Holy Lake. Monkeys talvez, se
uma alma caridosa quiser rachar as despesas.
Informo que meu passaporte vacinal está em dia, já aprontei
uma sacola de livros, outra de remédios. E no fundo da gaveta tem um maiô
catalina (com duas polegadas a menos) que ainda dá pro gasto.
Maria Solange Amado Ladeira 04/11/2021
www. versiprosear.blogspot.com.br
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