Sumô feminino

 

Sumô feminino

Solange Amado

 

Ela estava lá, imersa na sua atividade preferida: fazer nada. Deslizava pela correnteza do livro que, de repente, a levou até o outro lado do mundo. Japão. De quimonos e cerimoniais.

E ela estremeceu de indignação. Pois é, feministas, Sabiam disso?  É intolerável! Boquiabram-se: no Japão, as mulheres não podem lutar Sumô. Sumô é só pra homem macho. Clube do Bolinha. Meninas não entram. Proibidissimo!.

Quem sabe as mulheres fazem uma passeata de protesto? Uma Carta para a ONU. Incorporam a Greta no pacote e podem chegar lá. Mulheres à luta!.

Ela desconfia que vai ter pouca adesão do mundo feminino só por um detalhe: os lutadores de Sumô têm que se alimentar de, no mínimo, 20 mil calorias por dia. Toca a consumir carboidratos e proteínas. Triturar muita carne.

A mulherada à cata da esbelteza, comendo uma folhinha de alface por dia, dificilmente vai se entusiasmar pela dieta e pela redondeza do manequim de um lutador de Sumô. O povo vai crescendo pros lados que nem balão de São João. E morre mais cedo do que o resto da população, literalmente entupidos de gordura.

Mas ficam famosos. Estádios enormes cheios. A mulherada vai ao delírio. A coisa pega fogo. Ela viu uma luta pela TV. Caracas! Se tem de ser fanático, seja fanático por uma boa causa. Conselho de japonês.

A luta em si  é coisinha pouca. Um peido. Dura pouco mais de 1 minuto, se tanto. A arena é um círculo no chão. Duas redondezas, duas circunferências avantajadas como dois elefantes indianos, se atracam e se empurram para fora do círculo. Quem se esborrachar primeiro lá fora do círculo, perde.

Só isso. Sensacional! Não cansa o expectador. Coisa assim de coelho: “vai ser bom, não foi?” Não tem sangue. Isso é bom. A plateia faz uma catarse aos berros, empurrando um dos elefantes pra fora: “Chispa! Saia do meu laranjal!”.

Ela desconfia que é por isso que o japonês é tão educado. Ninguém bota a sogra porta afora, nem a mulher, nem o marido ou o cunhado chato. Deixa pra empurrar o bando todo da arena do Sumô.

E tem uma vantagem, cuja, interessa muito à mulherada: a indumentária. Mais reduzida do que nas praias brasileiras: nada além de uma tirinha na frente para “proteger” as partes pudendas (eles lá é que dizem), perdidas no meio de toneladas de gordura. E atrás, um cordãozinho passando bem rente ao fiofó. Nas praias nordestinas a peça tem o nome de “cordão cheiroso”.

Só não dá para ser muito fashion com esse modelito de Sumô. Grandes costureiros não podem fazer grandes extravagancias. Talvez uns pendurucalhos de strass. Não se sabe.

Ponto negativo para o público feminino é que os lutadores de Sumô na vida cotidiana, não podem de jeito nenhum usar trajes comuns, calças, camisas, camisetas. Só quimonos tradicionais japoneses. Outro profissional que morreria de fome na comunidade do Sumô é o cabeleireiro. O coque no alto da cabeça é único e obrigatório. Ela não sabe se lutador de Sumô pode ser careca. Vai ver é proibido também.

Ah! Mas tem algo que ela deixou pra trás,  e que vai fazer brilhar os olhos do mulherio e atrair um bocado de assinaturas para a carta a ser enviada  aos “Direitos Humanos”.É que se você for bom mesmo nesse jogo de empurra-empurra, pode ganhar de 50 a 250 mil dólares por mês ou mais.

Ela já começou seu regime de 20 mil calorias. Engordou 2 quilos. Saiu na frente. Melhor o mulherio se apressar! 

 

 

 

 

 

 

Maria Solange Amado Ladeira          -    08/11/2022

www.versiprosear.blogspot.com.br

 

 

 

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