Ladeira abaixo

 


Ladeira abaixo

Solange Amado

Ela saiu esbaforida do elevador. O táxi já esperava na porta. Muita pressa, muita pressa, me desculpe. Os gritos a acompanharam porta afora: “ A máscara! Cadê a máscara!”. Percebeu que os gritos eram com ela. Passou a mão no rosto. Tinha esquecido a focinheira. Caracas! Faz sinal para o motorista esperar, dá meia volta, sobe o elevador às carreiras, tira a chave da bolsa, se atrapalha pra abrir a porta do apartamento, joga a bolsa na poltrona da sala e corre ao quarto onde, dentro de uma gaveta há uma coleção de focinheiras de diversas cores e feitios variados.  Veste esse “cala a boca”, volta correndo, recolhe a bolsa, joga-a nos ombros, fecha a  porta e... o lazarento do elevador já não está mais no andar.

Operação reiniciada: chamar o elevador, descer, disparar porta afora e nova onda de gritos a acompanham: “Olha a bolsa! Olha a bolsa!”. Ela olha por cima dos ombros. Caramba! Não é que a bolsa jogada de qualquer maneira sobre o sofá,”fisgou” a renda de uma almofada e a carregou com ela? Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Ela faz sinal para o motorista esperar outra vez e tenta soltar a almofada agarrada no fecho éclair da bolsa. Sem sucesso. Volta pra dentro e pede ajuda ao porteiro.

Operação re-reiniciada. Demora, mas o porteiro consegue soltar os objetos enganchados sem rasgar ou quebrar nada. Ela pede ao paciente funcionário que guarde a almofada e dispara porta afora. Joga-se dentro do táxi. Está atrasada. Tem um ônibus gigantesco buzinando atrás do carro. O motorista não está lá muito bem humorado.

Ela respira fundo, pede desculpas e vida que segue. A via é de mão única, mas o motorista está confuso. Tão desbaratinado quanto sua passageira.”Minha senhora, tá todo mundo louco, o mundo lá vai ladeira abaixo, de ponta cabeça. A senhora acredita que hoje, minha filha de 12 anos me disse: “Pai, o senhor tem certeza de que eu sou uma mulher?” o Homem está azedo. “ Vai ver é esse negócio de identidade de gênero. Tudo revirado!”.

A senhora concorda, tudo dilacerado, partido em mil pedaços. Tenta respirar fundo e botar ordem no seu caos interior. Vamos por partes, como diria Jack, o Estripador. A Inglaterra em rebuliço, como o rebelde cabelo do Primeiro Ministro Boris Johnson. Macron levando tapa na cara do povo, A Merckel pedindo desculpas públicas e ninguém se entende com ninguém. O jeito é botar a culpa nos outros. E a OMS mais perdida do que cego em tiroteio.  Já botou a senhora como uma macróbia institucional. Atentem para a última proposta a ser votada (um espanto!). A partir de Primeiro de janeiro de 2022, nos “países em desenvolvimento”, todos os maiores de 60 anos, estarão automaticamente classificados como doentes, na nova edição de classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. Tem até código: MG-2A . Todo mundo de 60 anos ou mais vai ter um código que o decifra: MG2A. E estamos conversados. Pode ser que até lá a doidice esteja um pouco menos ativa. Há esperanças. Tudo pode acontecer com a sapiência dos cientistas.

Notícia boa mesmo foi dada pelo jornalista argentino Ariel Palácios. A Argentina é aquele país cujos habitantes vieram de barco da Europa, mas agora o barco tá fazendo água e glub glub a coisa tá toda alagada. O Palácios noticia que no Peru, como todo mundo sabe, houve eleições pra Presidente e metade da população se candidatou. O diferencial é que um dos candidados tem o costume de se autoflagelar todos os dias para se manter casto. Manda ver no chicote. O sacrifício não o fez ganhar a eleição, mas isso não vem ao caso. É um exemplo para os candidatos a eleição no Brasil. Fica a ideia. Ela não quer ferir susceptibilidades. Quem quer se manter casto, não há nenhuma contraindicação, mas não é esse o objetivo.  A ideia é que nossos candidatos resistam às tentações inerentes ao poder. As leis andam muito bambas, talvez o chicote seja mais eficiente. Se possível com uma esferazinha de chumbo na ponta.

Não custa nada. É só uma sugestão. Num país onde a raposa toma conta das uvas e Jack, o Estripador nem precisa trabalhar, porque até as leis são estraçalhadas todos os dias, é uma contribuição humilde. Esperamos que seja aceita.

 

 

 

Maria Solange Amado Ladeira                          09/07/2021

www.versiprosear.blogspot.com.br

 

 

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