A Era do ITAMBU
Solange Amado
Michael Chichton, o grande escritor
de livros policiais, um dia, sentindo-se um tanto cansado da vida, botou uma
mochila nas costas e resolveu dar com os costados em algum lugar mais exótico e
emocionante. E assim, foi parar na Nova Guiné, que depois da Groenlandia, é a maior
ilha do planeta. Até aí, tudo bem. O nó é que lá são falados 7 mil idiomas.
Babel é fichinha.
Só isso já basta. Promete muita
confusão, mas Crichton vai mais além e registra várias saias curtas num
delicioso livro que se intitula “Album de Viagem”. E a gente se diverte.
Um dia, lá pelas tantas da sua
visita, Crichton resolve visitar uma determinada cachoeira. Muita caminhada no
mato. De repente, uma tabuleta onde está escrito: “ITAMBU NOGAT ROT”. Sem
entender nada, ele pergunta ao nativo que o acompanhava: “O que isso quer
dizer?” O cara se espanta: “Como assim? Você não sabe falar inglês? Quer dizer:
It taboo no got right – É tabu, não tem direito”. Resumindo: “Proibido
ultrapassar”.
A leitora, fã de Crichton fica
assuntando. Seu país, muito maior do que a Nova Guiné, tem uma língua só em
toda a extensão do seu território, mas é a maior zôrra. Ninguém se entende.
Tirante que atualmente, a vida tá prá lá de chata. Não se pode nem contar piada
de papagaio. A censura come solta para o que não é politicamente correto (seja
lá o que isso queira dizer). E tome ITAMBU!
Antigamente por aqui, os índios
andavam pelados, correndo atrás das índias, iracemas virgens de lábios de mel,
na terra cheia de palmeiras onde cantavam os sabiás e onde em se plantando tudo
dava. Hoje se compra.
Não sei se vocês se lembram, nos
últimos 20 anos foi assim, quando tudo era um paraíso. Desde a Primeira Missa,
rezada em latim, da qual os índios só entenderam a frase final: ITAMBU NOGAT
ROT, ou seja, AGORA É NÓIS! E foram se arredando.
Aliás, dizem que floresta virgem é o
lugar onde a mão do homem nunca pôs o pé. Porque se põe, salvem-se quem puder,
a floresta e as virgens, que de resto, nessa terra de Santa Cruz são artigos
raríssimos. Bom, não tão raros assim. Em 7 de agosto de 1941, por exemplo,
Getúlio Vargas foi eleito para a cadeira número 37, que pertencia a nada menos
do que Machado de Assis, virgem de ter produzido um livrinho sequer. Qualquer
coincidência é pura semelhança com o que se passa nos dias de hoje. Nunca se
distribuiu tantos títulos de “Doutor Honoris Causa” a grandes nulidades.
A leitora, fã de Crichton também não
é contra as virgens. Ao contrário, nossos políticos, em sua grande maioria são
todos virgens de puteiro. O último bastião de pureza num festival de orgias. A
liturgia do cargo confere a eles foros de santidade. Madre Tereza de Calcutá é
pinto diante do Congresso desse país varonil. Isso nos últimos 20 anos, porque,
sem querer dar grandes esperanças aos leitores, sempre pode piorar.
Fora que existem alguns iluminados
que sabem direitinho pra onde a banda toca. Eles estavam lá em cima da árvore
na Primeira Missa e viram os marinheiros se infiltrando no meio da multidão
trocando espelhinhos e contas por pau Brasil e engrolando alguma indiazinha
desavisada, já que a Companhia das Índias era a meta a ser batida. Mas acharam
normal. Afinal, é tudo perfumaria mesmo.
A leitora, fanzoca do Crichton
lembra-se de ter lido em algum lugar que um humorista alemão, no auge da Era
Hitler, foi fazer um show em Berlim. Teatro cheio, alta cúpula nazista na
plateia. O sujeito entrou no palco tranquilamente, se colocou em posição de
sentido, estendeu o braço como se estivesse fazendo a saudação nazista. Vários
generais responderam à suposta saudação. Então, ele disse calmamente: “Meu
cachorro saltou dessa altura ontem”.
Todas as patrulhas ideológicas são
ridículas. Seria bom se o cachorro em questão, não só saltasse bem alto, mas
abocanhasse as canelas de todos os guardiães do politicamente correto. Já deu.
Amém. Ite Missa Est!
Maria Solange Amado Ladeira 23/062020
www.versiprosear.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário