Estadista






Estadista
Solange Amado
Sempre gostei dele.   Mas   só fui conhecer seus   feitos muitos  anos      depois.        Histórias contadas através dos outros. Muitos e muitos livros.
Eu sei. Não é a melhor maneira de se conhecer alguém. Dizem que a melhor maneira seria comer uma saca de sal juntos. Mas não vejo como eu e Churchill poderíamos fazer isso. Naquela época, eu era só uma estrelinha em projeto no universo, e alguns anos depois, eu só ficava tomando leite no peito. E segundo eu sei, leite não era nadica a sua bebida predileta. Os biógrafos dizem que ele mamava litros do mais puro scotch. Eu não gosto de whisky. De cara uma incompatibilidade. A segunda é que eu não fumo. E não gosto de charutos cubanos. Ele não teria chance comigo.
Não obstante isso, desenvolvi uma grande admiração por ele. Era de difícil convivência. Teimoso como uma mula, chapava todas. E dava uma boa banana para o consumismo e para a grana (e para propinas de um modo geral), mas não abria mão dos seus vícios e de suas manias. Numa época de extrema penúria para a Inglaterra, pra manter sua enorme banheira aquecida, gastava mais energia do que era preciso para aquecer o parlamento inteiro. Mas valeu a pena. Whisky escocês, charutos cubanos e uma monumental banheira aquecida é um preço pequeno a pagar para um país ser salvo da destruição total.
E tudo bem, ele era um gênio. E um detalhe que deveria ser levado em conta. Ele era um estadista. Isso fazia toda a diferença.
Durante a guerra, Churchill e Roosevelt se visitavam frequentemente. Churchill baixote e atarracado, era um brilhante estrategista, uma memória fantástica e uma presença de espírito que encantava a todos, mas o Primeiro Ministro inglês dava uma canseira enorme a todo o staff americano: bebia como um gambá, fumava sem parar enormes charutos fedorentos, soltando uma chaminé de fumaça. E ainda trocava a noite pelo dia, dando um nó no relógio biológico de todos os que trabalhavam com ele.  Deu canseira até em Hitler.
Conta-se que dormia com um camisolão folgado, sem nada por baixo e era comum que seus assessores, (homem ou mulher) o surpreendessem nu em pelo, saindo do banho. Não faltavam situações esdrúxulas. Lord Ismay, seu assessor, lembra-se de uma cena espantosa no banheiro de Churchill: “a atarracada figura do Primeiro Ministro, vestindo um camisolão de dormir super colorido, sentado num banquinho e cercado por altos chefes militares. Enquanto um almirante agitava a água com a mão numa das extremidades da banheira para simular um mar agitado, um brigadeiro estendia um colchão inflável de borracha no meio da banheira para mostrar como ele amortecia as ondas. Um estranho teria dificuldade de acreditar que se tratava do alto comando inglês estudando a mais estupenda operação anfíbia da segunda guerra”.
Fico pensando. Se o Brasil pudesse trocar, todos os seus políticos, governantes e todo o STF por um só Churchill, não seria má ideia. Estamos precisando de alguém com a sua coragem e seu estofo moral.
Não foi em vão que avisou Chamberlain e seus partidários, quando esses se acovardaram assinando o malfadado Pacto de Munique, abrindo caminho para Hitler invadir toda a Europa; “Foi-lhes dada a escolha entre a vergonha e a guerra. Escolheram a vergonha. Vão ter a guerra!”
Tempo bom em que se podia escolher.





Maria Solange Amado Ladeira              19/11/2019
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