Homo sapiens



Homo sapiens
Solange Amado
“ O intolerável é que todo mundo tem razão”. Não sei quem disse. Mas disse. E concordo. É meio desesperador saber que não somos os únicos. Que nossas escolhas não são perfeitas. E que vamos  fracassar na maior parte do tempo.
O golpe de misericórdia quem deu foi Harari, com seu livro “Sapiens”. Com ele aprendo que costumamos pensar em nós como os únicos humanos, mas o verdadeiro significado da palavra humano é “animal pertencente ao gênero homo”. Acontece que sempre houve várias espécies desse gênero, além do homo sapiens.
Todas usam a linguagem para se comunicar. Os animais podem avisar ao bando que lá vem o inimigo, de cima, de baixo, de lado; que tem água pelas imediações, alimento, etc. Nós também. O que nos diferencia dos outros “homo” é que nós fofocamos. Acreditem ou não, a “fofoca” é o que nos torna mais nobres. A gente não só pode cochichar pros nossos semelhantes que lá vem perigo, mas contar a “espécie” de perigo, com que roupagens ele vem, qual a ideologia dele. E inventar, exagerar, carregar nas tintas que nossa raiva, nosso ciúme ou nossa inveja dispuserem pra nós. Às vezes, o perigo nem é real. Mas o que importa o real, se podemos inventar? E complicar.
A “fofoca” do homo sapiens dá sabor à vida, nos torna diferentes, mas complica horrores. Tantas variáveis nos colocam frequentemente, numa sinuca de bico. Quem manda ser humano. E sapiens, além de tudo? Tá sobrando fofoca.
Isso me faz lembrar uma velha piada: “o otimista acha que o mundo vai acabar em merda. O pessimista acha que ela não vai ser suficiente pra todos”. Fácil. É só escolher o lado. Importante pensar que temos razão. Só que a verdade é cheia de nuances.
Aprendo coisas todos os dias. Como semana passada, na hora do almoço. Vou tirar um xerox dentro do Ed. Maletta. Passo pelo “Lucas” e enceto um papo com o garçom que é meu amigo. Perto de nós, dois jovens em uma mesa discutem, ou melhor, fofocam política. Um deles me chama. Discutem um artigo de jornal. O artigo diz que não vale a pena  prestar atenção no candidato X porque ele é pro lixo, assim mesmo, a palavra separada por um lapso de impressão. O jovem quer o meu aval, ele explica ao amigo que o que o autor quer dizer é que o candidato X é contra o meio ambiente, a favor do lixo. Acreditem se quiserem! Ele não conhecia a palavra prolixo. Acho graça. Tento desfazer o mal entendido. E sou brindada com essa observação: “Tá vendo fulano? Eu sabia que ela podia explicar. Tem cara de professora.” Fazer o quê? O hábito do cachimbo faz a boca torta.
Embora eu ache que a gente anda dispensando o pro e ficando só com o lixo. It’s up to you. Já que somos sapiens, vamos fofocar. É fazer a escolha de Sofia. Boa sorte pra todos!



Maria Solange Amado Ladeira     -   16/10/2018
www. versiprosear.blogspot.com.br


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