A oficina


Postado em 13/09/2017
A Oficina
Pelo aniversário do mestre Ronald Claver
Solange Amado

Minha faxineira uma vez me disse: “Eu conheço todas as letra, só não consigo juntá elas e formá as palavra”.Tudo bem. Eu junto “as letra” e “ispaio” razoavelmente no papel. O problema era outro. O texto andava meio enferrujado, fora de uso, meio cansado. Foi quando ouvi falar na “Oficina de Escrita Criativa”. Ôba! Oportunidade de tirar as teias de aranha da minha escrita. Talvez o professor pudesse ter uma chave de fenda pra apertar os parafusos das minhas palavras que andavam lá meio bambas. E devia andar pela sala com um chicote, corrigindo o meu português fora de forma. Nome dele? Ronald Claver. Muito esquisito. Imaginei um americano alto, loiro e de olhos azuis. Com um português enrolado de gringo. Isso não ia dar certo!
Mesmo assim, fui em frente. Corria o ano da graça de 2012. Meu primeiro dia me mostrou que a imaginação prega peças. Entrei ressabiada, caçando o americano alto e loiro. Encontrei um careca, baixinho e gordinho. Nada mais tupininquim. A explicação para o Ronald Claver só tive muito tempo depois. Coisas de mãe.
Segunda constatação: O gajo não tinha nem chicote nem chave de fenda nas mãos. Eu que me virassse. Nem tinha voz trovejante pra botar minhas palavras no lugar. Vai daí que elas tomaram liberdades. Se “ispaiaram” da maneira mais confortável possível. Desavergonharam de vez. E já que o mestre não botava limites, relaxei. Deixei as meninas em paz.
Não que ele não enxergasse os erros. Uma vez teve a ousadia de falar bem discretamente nos meus ouvidos: “tire o chapeuzinho da palavra cor”. Chapeuzinho! Nada de acento circunflexo. Avacalhado que nem eu. Então tá! Ousei aposentar o chicote e a chave de fenda. Não pode vírgula depois do MAS. O resto pode. Enterrei de vez as firulas do “politicamente correto” . E agora é tarde. É de pequenino que se torce o pepino.
Não que tenha sido sempre assim, de maciota. No princípio rolou uma certa desconfiança. No primeiro texto já levei um joelhaço. Queimei as pestanas para produzir algo sofrível. Não queria fazer feio. Só para ouvir: “ De onde você copiou esse texto?” Cara mais lazarento.
Mas eu perdoei. O mestre é boa gente. E vai escrevendo com cada um, sem muitos tapas e  com muitos beijos, uma relação literária única. Sem cópias.
Eu e minhas meninas, as palavras, crescemos muito sob a batuta benevolente do maestro Ronald. Obrigada é pouco. Mas é o que temos. Tomara que muita água ainda possa passar debaixo da ponte. E os aniversários continuem não sendo adversários. Que muitas palavras ainda possam florescer nesse jardim literário. Muito amor, muita paz e muita saúde que ninguém é de ferro!


Maria Solange Amado Ladeira   -     12/09/2017

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