Pasárgada
Solange Amado
Todo mundo conhece essa velha piada. Mas eu vou contar assim
mesmo, que calha bem com meus propósitos. E ninguém me disse pra calar a boca:
Estava Jackeline Onassis estendida, nua, à beira da piscina na Ilha de
Skorpius. Vão passando, o jardineiro, o motorista, o cozinheiro, etc., e cada
um deles olha a cena e murmura: “Ah! Se eu fosse o Onassis!”. É quando chega o
Onassis, olha a cena e murmura: “Ah! Se eu funcionasse”.
Pois é. É disso que se trata. Todos querem ir pra Pasárgada.
E não. Não estou me referindo a Pasárgada um lugar. Uma cidade lá nos confins
do mundo. Pasárgada é um ideal, um desejo inalcançável. É a outra metade da
maçã, que não existe.
Mesmo assim, eu quero ir pra Pasárgada. Não pra rever o rei,
de quem sou amiga, ou tomar café com a rainha, andar a cavalo, subir, descer e
cair do cavalo, que é o que mais faz, por exemplo, a família real britânica,
além de casar, separar, batizar os rebentos e alimentar de fofocas os ávidos
súditos de suas majestades.
Minha Pasárgada tá mais pra Ilha de Skorpius do que pro fog
londrino e os cavalos da rainha. Eu queria só que meu joelho funcionasse e que
eu pusesse um ponto final nesse texto mambembe e fosse dormir de conchinha com
o George Clooney (dormir não é bem o termo, mas devo poupar os amigos dos
detalhes sórdidos).
E é aí que mora o perigo. Não existe Pasárgada. Vai ver o
George Clooney tem chulé, mau hálito, eructações e gases, que podem não ser tão
nocivos à atmosfera, mas que causam enorme estrago ao meu desejo.
Bom, mas não carece de chegar tão depressa aos finalmentes.
Fiquemos na idealização que é Pasárgada, fiquemos no desejo, aquele danado que
quando chega lá, nunca é ele.
Pasárgada é uma miragem no deserto. O oásis. O George Clooney
da minha vida. Água cristalina, muito verde, temperatura amena e olhar pidão.E
eu só queria funcionar, que nem o Onassis, quando o George estivesse, como diz
o italiano, sdraiato numa chaise longue, no meu oásis.
Pasárgada é o espelho que me emagrece, que responde com um
sonoro NÃO à minha pergunta: “existe alguém mais lindo do que eu?” Pasárgada é
essa minha inteligência sem fim, esse talento que embasbaca, essa simpatia que
derruba até o muro de Berlim (ou do Trump pra ser mais moderninha). Meu Deus!
Pasárgada é a perfeição de mim!
Com dinheiro no bolso e uma ideia na cabeça.
Não me levem a mal. Acho que me entusiasmei. Mas o que quero
dizer é que, embora não exista. Pasárgada é o objeto do meu desejo. E sem
desejo eu sou a mosca do cocô do cavalo do bandido. Sou nada. Não funciono.
É uma contradição, mas não é uma contraindicação. E não tem
tradução. E se não tem tradução, não tem
nenhum corretor lazarento de texto. E eu posso ousar, e imaginar, e me
aventurar. Ou não.
E embarcando nas águas do “ou não”, vou ficando por aqui, que
a inspiração, se é que houve alguma, já acabou. Recolho o meu desejo, desfaço
as malas, que agora, Pasárgada só amanhã. Hoje só vou até Venda Nova.
Maria Solange Amado Ladeira
- 14/02/17
www.versiprosear.blogspot.com.br
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