Em liquidação


Postado em 16/08/2016
Em liquidação
Solange Amado                                 

Hoje aproveite. Estou em liquidação. Quem quiser me achincalhar, me ofender, levantar falso, denegrir minha moral, aproveite. Baixei a guarda. Nem vou me sentir humilhada. Esteja à vontade.
Mas não se engane. Não é porque hoje incorporei a Madre Tereza de Calcutá. Longe disso. É porque você não representa nada para mim. Você só me denigre pra tentar ser alguém. Precisa de mim pra ser alguém na ordem das coisas. Não vou lhe dar essa trela. Então, use o seu dia de hoje pra continuar sendo ninguém. Em tecnicolor. Porque não vou lhe dar essa visibilidade.
É uma sorte sua eu existir. Imagine se não pudesse tirar esse sarro de mim? Que monotonia! Então, vou permitir. Só hoje. E só porque aí do seu lado, não tem nada que se aproveite mesmo. Tudo cinza.
Gostaria de ser sempre generosa assim, mas de vez em quando a gente tem de limpar o terreno em volta e mostrar a que veio. Jogar parte do lixo fora. Vai encarar? Outro dia então. Tô de férias de mim. Dou uma olhadinha pro outro lado da rua e mergulho em cores mais vibrantes. É muito desgastante ficar enfrentando o mundo todos os dias. Vez em quando é bom fazer ouvidos de mercador. Você fala, fala e eu sigo em frente e vendo o meu peixe, fingindo prestar toda a atenção do mundo.
Aprendi a apertar a teclinha ESC. E você vai pro espaço. Nossa! Que alívio! Quando eu nasci não havia essa teclinha. Foi difícil descobrir onde ela ficava e pra que servia. Foi aparecendo aos poucos e eu fui crescendo com ela. No início só eu desaparecia quando a apertava. Com o tempo, fui soltando a franga. Hoje a mágica está feita. Nem vem que não tem.
Ontem, abri a página da minha vida. Dei um ESC no seu nome e ficou tudo beleza. Fui dormir em paz. Até segunda ordem. Só até segunda ordem.
Mas a bem da verdade. Se quer saber mesmo, li isso em alguma lugar e juro que é verdade – preciso que alguém me fira pra sangrar palavras. Bom, não exatamente assim. A pessoa em questão sangrava imagens, eu sangro palavras. Cada um no seu quadrado. O certo é que é bom que você me cutuque. Tire a casquinha. Vão escorrer palavrinhas vermelhas como sangue. E eu as ofereço a você, que desejando me destruir, acionou essa força colorida: as palavras.
É. Às vezes, acho que a vida me pertence. E posso sonhar. Graças a você.

Maria Solange Amado Ladeira                                 09/08/16
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