Um jantar de comemoração


Postado em  06/04/2016
Um jantar de comemoração
Solange Amado
Era pra ser um jantar de comemoração, mas, aqueles dois pareciam meio perdidos. Em algum momento daqueles 20 anos de vida em comum, o cavalheiro adquiriu aquele olhar de dromedário cansado, e a dama se escondeu atrás do ar de paisagem; de montanha, e não de praia, que é prá ficar bem longe de areia e de dromedários. Mas, era uma comemoração, com direito a champagne, garçon, luz de velas, lusco fusco e um romance de plástico. Aqueles dois estavam impregnados de toda uma Las Vegas de intimidade. Mas, era uma comemoração. Todo mundo tem direito a comemorações.Mesmo que não saibamos exatamente o que comemorar, é necessário alguma alegria. Bolhas de Champagne. O cavalheiro move os lábios, seus olhos parecem mostrar alguma vida, talvez pense numa imagem desfocada da dama à sua frente, momentos tórridos e lascivos, tempo em que o verbo comer não desembocava exatamente em um restaurante; lembranças desmaiadas que habitam irremediavelmente dama e cavalheiro e timidamente teimam em renascer nas cinzas. Os olhares se encontram, um pequeno sorriso e por um momento, penso que dama e cavalheiro irão dar uma trégua ao presente e se deixarem engolfar pela felicidade amarelada do passado, mas, escavar essa camada de juventude acumulada e enterrada pela avalanche do presente, deixa qualquer um exausto. Foi só um prurido de sensações antigas. Tchin tchin. Os olhos se tocam, as taças se tocam. Quebra-se o momento. Mas, eu ainda espero.

                                                  Maria Solange Amado Ladeira
www.versiprosear.blogspot.com.br

                                                  

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