Os arautos do apocalipse

 


Os arautos do apocalipse

Solange Amado

 

“A vida é como um lobo. Se ela sentir que você está com medo, ela ataca. Tem que olhá-la bem dentro dos olhos e seguir em frente. É sua única chance”.

Não se assuste. É só a fala de um filme cujo diretor não tem nada pra fazer. E sabe direitinho o que fazer. É ruim de ela chamar no braço um lobo faminto. Com certeza ia botar sebo nas canelas. De qualquer maneira, são favas contadas que ela ia servir de petisco saboroso para o dito animal. Não que ela tenha a intenção de se encontrar com um. O cara do filme é da Turquia. Não sei se lá tem lobo. Por aqui, nesse Brasil varonil tem. E não faltam malucos e ideias idem. Ela desistiu do filme e da teoria besta.

Muda de toada e vai ver os zaps com que foi abençoada nessa manhã ensolarada. Um sujeito que se intitula “químico autodidata” Joga por terra esse negócio de ficar passando álcool em gel, cujo, no seu entender, vale menos do que nada.  A bola da vez agora é o vinagre. Um país inteiro cheirando a vinagre. Vai ter de se acostumar. Fora que o cocô tem covid e é melhor entrar no banheiro com todo o equipamento de proteção hospitalar pra fazer o número 2. Nessa toada, não há tatu que aguente!

Os arautos do apocalipse estão afiados nas redes sociais. A TV não fica pra trás. Os cabelos dela ficam em pé. Além de ter de encarar um lobo faminto e se envinagrar toda pra encarar as ruas, melhor fazer um estoque de bananas. Vamos que resolvam fechar os supermercados e padarias todos os dias. Sem banana não dá pra viver. Verdade é que a Farmácia do lado da sua casa já está vendendo macarrão. Tem macarrão lisinho, torcidinho, enroladinho. Melhor estocar macarrão também. Vai que...

A vizinha sai pra comprar sorvete. “Uai! Mas você não gosta de sorvete!”. “É, mas domingo supermercados e padarias vão ficar fechados!”. Faz sentido, pensa a velha senhora. O pânico não dá espaço pra lógica. A mídia deita e rola. Solta o elefante na loja de louças.

O sobrinho de 9 anos telefona: “Tia, acesse o meu canalzinho com meu pai, e dê o seu like!”. É ruim, hein! Ele não sabe que se ela penetrar fundo no mundo digital, periga receber na cara o bafo de 2.000 anos de algum Tutancâmon pela frente. Nessa caverna ela prefere não mergulhar. Fica nas preliminares, de vez que sempre se perde naquele labirinto. Fica pra outra vez, embora a causa seja nobre.

No mais, ela não perde a esperança de escapar da pontaria do covid. Há pouco tempo, leu a biografia do De Gaulle. E viu lá que uma vez, contrataram um atirador de elite para assassiná-lo. O homem era fera na pontaria. A coisa foi planejada para acontecer  durante uma cerimônia pública de entrega de medalhas a personagens que não interessam a ninguém. O atirador  se posicionou cuidadosamente, mirou bem na cabeça do De Gaulle e puxou o gatilho. Acontece que o então Presidente da França era um homem muito alto e o recebedor da medalha era bem mais baixo. De Gaulle teve que se curvar bastante pra prender a medalha no peito do gajo. Aí a bala passou zunindo acima da cabeça dele.

Ela não tem a estatura de um De Gaulle, mas quem sabe?

E alguém aí tá sabendo por onde anda a nuvem de gafanhotos que vinha da Argentina? Podem se preparar! Por falta de pretexto, ninguém deixa de entrar em pânico. O terreno é fértil.

 

 

 

 

Maria Solange Amado Ladeira          -31/03/2021

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