Fake News





Fake news
Solange Amado

O exército de Napoleão atravessou os Alpes e conquistou a Áustria, na famosa batalha de Marengo. Vaidoso, e com a intenção de eternizar esse momento, Napoleão pediu ao famoso pintor Jacques Louis David que pintasse um retrato seu, montado em um belo cavalo, mas se recusou a posar para o pintor.. O cara fez o seu melhor, sapecou no quadro um Napoleão bem melhorado, montado em um belo cavalo branco. Daí nasceu a famosa pegadinha: “De que cor é o cavalo branco de Napoleão?” Fake news (já tinha um bocado naquela época).
Na verdade,  Napoleão tinha muitos cavalos e de cores variadas. E nem participou da Batalha de Marengo. Chegou uma semana mais tarde, montado em uma mula, não se sabe exatamente a cor. De burro fugido, provavelmente.
E quando eu digo que tenho as orelhas da Marilyn Monroe, as pessoas duvidam. Mas acreditam no cavalo branco de Napoleão. É mole?
Assim  fica  difícil.Ontem, um figurinha manjada, com uma calça jeans cheia de rasgões, sandália de couro cru e embornal, passou por mim envergando uma camiseta com a cara de Che Guevara e a indefectível frase: “Hay que endurecerse sin perder La ternura jamas”. Todo mundo pensa que a frase é do Guevara. Maior fake news. Na verdade, o Che passou longe dessa frase,e nem fazia o gênero ternurinha. Num momento qualquer da sua biografia, o biógrafo botou essa frase en passant. Alguém, certamente um capitalista, resolveu lucrar com a esquerda. Romantizou o guerrilheiro bonitão, botou a foto dele com a frase embaixo. Colou. Deu o maior pedal. Camisetas, botons, bolsas, bonés explodiram e milhões de dólares depois, a coisa continua dando ibope. Todo mundo cai na pegadinha.
Mas da minha semelhança com a Marilyn todo mundo duvida. Talvez eu devesse sair com a orelha pintada numa camiseta. Esse povo merece!
A verdade é tão relativa que até Jesus Cristo ficou na dúvida. “O que é a verdade?”. Será que a gente quer encará-la sin perder La ternura? Porque a verdade exige que a gente perca a inocência. E isso é um bocado incômodo.
Isso me faz lembrar do cara que desconfiado da mulher, contratou um detetive para segui-la. O homem após uma pesquisa, volta e lhe faz um relato: “Olhe, eu segui a sua mulher. Ela entrou num carro com um homem. Eu segui atrás. Eles foram para um motel. Eu fui atrás. Eles entraram, fecharam a porta e eu fiquei olhando pela fechadura. Mas aí, o cara tirou a camisa e pendurou no trinco. Não pude ver mais nada.
É aí que o marido exclama: “pois é. É essa dúvida que não me larga!”
Tem muita gente apegada a essa dúvida. O rei ainda não está nu. Só tirou a camisa. E daí?





Maria Solange Amado Ladeira          24/09/2019
www.versiprosear.blogspot.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário