Quando conheci o mar


Postado em 10/03/2016
Quando conheci o mar
Solange Amado

Eu já tinha um bocado de dor plantada em meu coração. A infância já não era assim tão pura, atravessada pela feiura da vida, da morte, do sofrimento. Foi então que eu vi o mar Eu vi o furor insano do mar. Eu vi o sussurro, a calma, o colorido, a beleza cristalina do mar. E a marca indelével dessa experiência abriu caminho num regato fundo de águas salgadas na minha alma. Lágrimas. E esse gosto, esse rosto grudaram em mim para além do infinito. O mar que engole na sua zanga feia, o mar que tritura, sacode, espanca, fere, o mar que afaga, encanta, embala num carinhoso abraço de múltiplas cores: azul, verde, branco; o mar brincalhão, que faz cócegas com sua espuma serpenteante.
Amar o mar. É fácil quando ele abraça carinhoso a nossa alma. Também não é difícil odiá-lo, quando suas garras salgadas penetram fundo nossa carne. Mas não bastasse esse visual forte, impactante, tremendo, ouvir o mar nos leva bem perto da perfeição. O compasso, a melodia, aquela melodia que não desafina nunca, não obstante o farfalhar do vento que, ciumento, tenta interferir nesse marulhar constante, mas que, ao tentar dividir, soma e torna o espetáculo de uma gigantesca beleza.
Eu vi e ouvi o mar, pela primeira vez naqueles idos em que a vida me castigou mais forte. E aprendi que prazer e dor habitam o mesmo corpo. E o mel e o fel são servidos sempre na mesma taça. E o ir e vir das ondas, mostra nossa fenda eterna. Odiamar. A corda bamba. Não tenho escolha. É embarcar nessa onda.



Maria Solange Amado Ladeira –   04/11/12

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