Postado em 07/03/2016
Gata Apaixonada
Solange Amado
Ando com um
problema. Procuro respostas, talvez
vocês tenham uma solução.
Vocês me conhecem. Sou só uma gata. Verdade que muito
fofinha. Mas apenas uma gata. Não é pouco, não é simples. Gatas são sinuosas,
dão voltas, são elípticas. Gatas são complicadas. Não andam em linha reta. Em
geral, abuso do meu olhar sensual, do meu ar blasé, pra submeter os incautos
aos meus encantos. E consigo. É só botar os meus imensos e hipnotizantes olhos
verdes em cima de uma criatura desavisada e todos os meus desejos são
satisfeitos. O êxito é mais imediato
ainda se eu tocar de leve, em silêncio,
roçar com meus pelos os lábios de alguém. Confesso que não primo pela
honestidade, talvez eu seja um tanto falsa, ou a palavra certa seja manhosa?
Mimada? Sei lá, só sei que isso torna o problema mais difícil pra vocês. Gosto
mesmo é de mordomias, leitinho na hora certa, cafuné, comidinha da melhor
qualidade e colo fofinho.
Isso até alguns meses atrás, quando bati o olho em um gato.
Infelizmente, um gato frajola, um gato pernóstico, um gato assim meio
falastrão. Pra ser honesta, meio mafioso, de fama meio suspeita. Ainda assim,
virou objeto dos meus desejos. Desejo de mão única, é certo. De cá pra lá, de
lá pra cá não há tráfego. Esse é o problema. Minha estratégia de conquista não
vem dando certo desde o começo. Miados eróticos, toques sutis, olhares
carregados de convite, andares bamboleantes. Nada engata com esse gato mafioso.
Sei que gatos são infiéis de nascença. Questão de DNA, mas
nunca pensei que fossem tão duros de roer. Gatos são inconsequentes,
superficiais, fáceis de enrolar, mas esse gato em particular é pior, parece
imune a qualquer tentativa de envolvimento amoroso. Nada funciona. Imaginem
como anda a minha autoestima? O fato é que, na arte da conquista, não atino com
o pulo do gato.
É verdade que é um gato do mato, meio casca grossa, talvez
seja muito malandro para uma gata sofisticada como eu. Mas vocês sabem que
gatos cafajestes são sempre mais fascinantes. E aí vocês diriam, iniciar um
relacionamento com um gato cafajeste não seria embarcar em uma canoa furada?
Tá certo. Mas sou só uma gata carente, um tanto neurótica.
Estou perdidamente apaixonada e, lembrem-se, não existem certezas nesse país
das maravilhas onde tenho vivido, vocês podem me dizer que caminho tomar pra
chegar a algum lugar? Não vale engatar marcha à ré.
Talvez eu tenha de ser mais agressiva. Se ronronar não
funciona com o gato, arranhar pode dar certo. O que acham? Questão de
estratégia ou falta de tato?
Maria Solange Amado Ladeira
- 19/11/13
www.versiprosear.blogspot.com.br
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