Carta ao George Clooney

                                                        
 Solange Amado
BH 10 de abril de 2012
Exmo Sr.
George Clooney
Los Angeles
California – USA

                                                   Prezado Senhor Clooney

Tenho um novo amor. Simples assim. Não me sinto culpada por essa traição, depois de tantos anos em que lhe fui fiel incondicionalmente. Se o senhor costuma ouvir Amália Rodrigues nas suas horas de folga, deve saber que “quando o amor acontece, não pede licença alguma”. Foi assim conosco, quando, no escurinho do cinema, o senhor pousou sobre mim aquele olhar pidão, um sorriso enviesado e se inclinou sobre mim, me arranhando levemente com uma barba espinhenta, um tanto grisalha, e deslocou sua covinha no queixo, ao murmurar no meu ouvido: “eu te amo”, com uma voz carregada de desejo; paixão que me arrebatou incondicionalmente, definitivamente até os dias de hoje. Mesmo que meu inglês não vá além do “the book is on the table”, e o seu português seja o mais execrável possível, nas nossas noites mais tórridas, o amor superava a barreira da linguagem. Bastava o olhar pidão, o sorriso enviesado e a covinha no queixo. Fomos felizes, ou melhor, estive feliz na maioria do tempo. O senhor foi um grande companheiro das minhas noites maldormidas. Chegava sorrateiro e se aninhava ao meu lado, carinhoso, cansado do mundo de plástico hollywoodiano. Quase uma completude. Mas tinha hora pra acabar. Quando as primeiras luzes da manhã se imiscuiam na nossa perfeição amorosa, o senhor tinha de regressar para as luzes da ribalta , não havia nem mesmo tempo para o “the coffee is on the table”, que a carruagem virava abóbora numa velocidade supersônica.
                                                            Não sei quando ou como alguns ruídos começaram a atravesssar esse par perfeito. A princípio não me incomodou muito, quando o senhor começou a ceder ao canto das sereias hollywoodianas. A imprensa marrom me desafiava com suas manchetes escandalosas. Feria fundo meu coração, vê-lo gastando seu olhar pidão ou sua covinha no queixo com aquelas loiras dolicocéfalas, barbies norte americanas de pernas finas e sensibilidade grossa. Mas o senhor voltava. Prá meu alívio. Presença cada vez mais rara, descontínua, é verdade, mas, um bendito intervalo entre as dores de um parto às avessas. Seria bom se eu conseguisse numas dessas, prendê-lo ao meu corpo, como um perfume forte e marcante, mas as barbies, com suas garras afiadas foram ocupando mais e mais espaço. Foi ai, senhor Clooney, que comecei a escutar uma outra toada, a de um violino pungente, solitário como a minha dor, cortando a noite. Mãos macias e delgadas, cabelos de milho, rebeldes, à la Beethoven, sorriso lindo e maroto. Sem cerimônia, em noites áridas, ele começou a dar um “canja” no meu leito e a tocar a sua melhor canção no violino do meu corpo. E agora, um holandês, de pernas finas como as suas barbies, vem andando de tamanco no meu coração. É isso, senhor Clooney. Nada de culpas ou desculpas. Foi bom enquanto durou. A gente perde, ganha, mas não pode ficar empatado. E nesse desempate, fique o senhor com suas loiras dolicocéfalas e eu permaneço com meu violinista holandês e minhas lembranças.
                                                                        Adeus, senhor Clooney. Grande abraço,
                                                                         Solange, agora, SOL..........loooooonge.

PS- A propósito, se lhe interessar, o nome dele é ANDRÉ RIEU.



Maria Solange Amado Ladeira

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