Combino
de ir ao cinema com um amigo, e como ainda tenho 20 minutos pela frente,
resolvo ligar para a OI solicitando a
desativação de uma linha telefônica. É uma operação simples, que não deve
demorar nem 10 minutos. É o que, na minha santa ingenuidade, acredito. Levo,
seguramente, 50 minutos de tentativas e fracassos, o que quase me faz perder a
paciência e o amigo, mas o filme, esse não se salva. A OI não quer desligar o
meu telefone, e não obstante a minha resistência, insiste em me fazer algumas
propostas indecorosas. E se eu passasse a pagar X e não Y para manter o
telefone ligado? E se eu aderisse ao plano XYZ? E se eu... A todas as
investidas respondo com um sonoro NÃO. Ao que parece, falo javanês, e preciosos
minutos se escoam antes que haja um happy end. Deo Gratias! Perco o cinema, mas
ganho a queda de braços. Finalmente a atendente se torna entendente.
Conseguimos falar a mesma língua. Pra meu alívio. No dia seguinte, a OI tem uma
recaída, voltou às propostas indecorosas, mas durou pouco – meu javanês já
estava apurado.
Muitos e muitos dias se passam,
consegui ver o meu filme e estava vivendo feliz para sempre com a minha
lagartixa, a Erotildes e eis que, não mais que de repente, a OI rides again:
recebo uma conta do dito telefone desativado. É hora de conversar “de homem prá
homem” com esse pessoal. Respiro fundo e ligo: uma voz saltitante me atende:
“Oi, sou o Eduardo, seu atendente virtual. A OI agradece sua chamada, mas antes
que eu apresente suas opções, anote o número do seu protocolo, mas, calma! Vou
dar um tempo para você pegar caneta e papel”. Respiro fundo e me preparo para a
trilha sonora do fatídico Fur Elise que fatalmente virá, mas o que veio foi um
número indecente de grande, que eu anoto com alguma dificuldade. Meu
entusiasmado atendente virtual continua: “aperte 1 se quiser que eu repita,
aperte 2...” curiosamente isso me soa como a antiga propaganda do Regulador
Xavier – o remédio de confiança da mulher – número 1 excesso, número 2
escassez. Excesso de burocracia. Escassez de honestidade. Meu inimigo virtual
Eduardo me elenca umas dez opções e nenhuma se enquadra no meu problema. Resolvo
arriscar a número 9 – falar com algum atendente real. Já não aguento os
virtuais. Aperto o 9 e ploc! A ligação cai. Tenho de começar de novo a litania
com o Ed (já estamos íntimos) e dessa vez, resolvo arriscar na opção “contas a
pagar”. Dessa vez tenho sorte, uma jovem alegrinha me atende com o indefectível
“a OI agradece a sua chamada”. Explico o problema, mas surpreendentemente,
volto a falar javanês e recebo em troca: “Senhora, vou estar verificando no meu
sistema”. Respiro fundo e digo que vou estar esperando. Leio um capítulo do meu
livro antes que a jovem alegrinha volte: “Obrigada por estar esperando.
Senhora, sua linha é residencial ou empresarial? Informo que é empresarial. “Ah!
Então não é esse ramal”. Meus instintos assassinos estão absolutamente alertas,
mas não tenho escolha senão retornar a meu saltitante Eduardo virtual,
amaldiçoando toda a sua ascendência e descendencia virtual, que não tenho
dúvida, será grande, já que essa praga ainda vai afogar o mundo. Dessa vez
resolvo arriscar a opção 9 – um atendente real. E dá certo! Ufa! Lá vem mais
uma jovem alegrinha. Ouço de novo que a OI tem prazer com a minha ligação (acho
que ela já deve ter tido orgasmos múltiplos tal é o prazer que estou lhe
proporcionando). Solto os cachorros, mas a atendente robô continua impassível:
“Senhora, vou estar verificando no meu sistema. Lá vem mais “Fur Elise”
enquanto leio mais um capítulo do meu livro. E foi aí que, após dar mais algum
prazer à OI por ter esperado sem piar, a atendente robô solta essa pérola:
“Senhora, aqui no meu sistema consta que a senhora tem um CRÉDITO com a OI nesse mesmo valor.
Tá certo, eu aceito. Sou uma criatura analógica num mundo digital.
Quando meu tico e meu teco entram nos labirintos digitais, costumam não
encontrar a saída. Mas aqui, vou precisar de ajuda dos universitários: recebo
da OI uma conta de telefone que vence no dia seguinte, se não pagar, recebo
multa, juros, correção monetária, o escambáu. De repente, como num passe de
mágica, o débito vira crédito, e segundo me é explicado, posso fazer várias
ligações sem ônus, de uma linha que já não existe. E o que é que eu faço com
essa conta? “Desconsidere”, é a cândida sugestão da moça robô. Desconsiderada
eu já estou. Desarvorada eu já estou. Desconcertada e desarticulada eu já
estou. Descontrolada, garanto que já estou e poderia esquartejar todos os
Eduardos virtuais e reais que atravessarem o meu caminho, mas, tenho que me
curvar diante da capacidade dessa Companhia Telefônica de ser um prodígio de
non sense. Quer saber? Já me perdi muitas vezes nos recônditos digitais e
consegui achar a saída, mas, quem se perde nos recônditos da OI, desaparece
para sempre no Triangulo das Bermudas do salve-se quem puder e ainda periga desenvolver uma síndrome do pânico.
– 23/06/12
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